Áreas de risco de deslizamento - Não construir ou como construir?
Ainda sob o impacto dos recentes e lamentáveis incidentes que atingiram vários pontos de nosso país e que persistem nestes primeiros meses de 2013
Ainda sob o impacto dos recentes e lamentáveis incidentes que atingiram vários pontos de nosso país e que persistem nestes primeiros meses de 2013
Vamos retornar ao tema-título deste artigo, já desenvolvido, por nós e vários colegas, em inúmeras outras oportunidades, infelizmente, porém, sem a contrapartida da repercussão em termos práticos, que o assunto deveria merecer.
Cabe aqui, uma imagem que nos ocorre, no campo da Medicina: Quando nos surge algum sintoma mais preocupante, nosso comportamento, via de regra, é o de conversar com amigos ou parentes, queixar-nos, lamentar, manifestar receio, e – o que é mais grave – postergar a única atitude que deveria ter sido adotada tão logo surgido o problema: recorrer a um especialista naquela matéria específica da Medicina.
Áreas de risco para construção - tomar precauções |
Voltando à nossa especialidade: em grande parte das ocorrências no campo da Engenharia Geotécnica, apenas somos convocados perante fatos consumados quando, ao revés, deveria ser exigida a presença e participação do engenheiro geotécnico “a priori”, ou seja, antes de qualquer outra providência, até mesmo da compra de uma área onde se pretenda edificar, pois o conhecimento prévio das condições geológicas e geotécnicas de um terreno, muitas vezes conclui até por recomendar sua não-aquisição.
A própria legislação que trata desta importante área da engenharia civil não deveria prescindir, em sua elaboração, da participação dos especialistas em geotecnia que são habilitados pela Sociedade e especializados neste assunto. Estes são os únicos profissionais realmente capacitados a elaborar as alternativas técnico-econômicas indispensáveis à análise de cada problema específico.
Enfocando particularmente a área pública, começamos por criticar a inexistência, em muitos casos, de um mapeamento geológico de áreas onde se edifica indiscriminadamente, à revelia de procedimentos geotécnicos, que poderiam – se convocado um especialista – ter viabilizado seus aproveitamentos, dentro de asseguradas condições de segurança, estética e economia.
Recente e expressivo exemplo disto é a construção da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes, cujo projeto baseou-se na experiência (com péssimos resultados e vultosos custos de infindáveis reparos) da Via Anchieta. Nos já distantes tempos de nossos bancos escolares, nossos mestres em Mecânica dos Solos já ensinavam que “A essência da Serra do Mar é ruir”. Mesmo assim, a estrada foi construída incrustando-se a pista em suas encostas.
A partir daí, só restou o expediente de executar incontáveis e custosas obras de contenção, alteração de traçados, desvios, etc.
Áreas de riscos devem ser muito bem trabalhada para ver as possibilidades de construção |
Além destes inconvenientes, há que se conviver com a predatória ocupação urbana das perigosas encostas da Serra do Mar, ocupação que só tende a agravar os riscos devido à impermeabilização do solo pela pavimentação de vias e lotes, descargas indisciplinadas de águas pluviais ou servidas, extração irregular de madeira, desvio do curso natural de nascentes etc.
Os morros que se interpunham ao traçado das pistas foram vencidos por túneis, igualmente perfurados em rocha. Com isto, preservou-se o instável solo natural do maciço e eliminou-se a inconveniente ocupação indisciplinada das margens da rodovia.
A contrapor isto, cabe indagar:
− Qual o custo resultante das incontáveis e constantes correções de uma obra inadequada, sob o aspecto da Geotecnia?
− Qual o custo de recuperação (ou quanto já se despendeu) em contenções, drenagens, desvios, reparos, nas rodovias construídas sem os pré requisitos geotécnicos indispensáveis?
− Qual o custo da remoção de escombros, transporte de materiais resultantes de demolição, construção de muros de contenção e de drenagens, tudo devido a deslizamentos em simples obras residenciais ou industriais edificadas sem o concurso de um engenheiro geotécnico?
− Quais os custos indiretos (importantes!) resultantes do incômodo causado aos usuários?
− E apesar de último, o principal; Qual o custo de uma vida?
− Qual o custo resultante das incontáveis e constantes correções de uma obra inadequada, sob o aspecto da Geotecnia?
− Qual o custo de recuperação (ou quanto já se despendeu) em contenções, drenagens, desvios, reparos, nas rodovias construídas sem os pré requisitos geotécnicos indispensáveis?
− Qual o custo da remoção de escombros, transporte de materiais resultantes de demolição, construção de muros de contenção e de drenagens, tudo devido a deslizamentos em simples obras residenciais ou industriais edificadas sem o concurso de um engenheiro geotécnico?
− Quais os custos indiretos (importantes!) resultantes do incômodo causado aos usuários?
− E apesar de último, o principal; Qual o custo de uma vida?
E a ausência de um engenheiro geotécnico (ou, às vezes, até sua participação priorizada por interesses escusos) tem custado, desgraçadamente, muitas vidas...
É comum que nos deparemos com soluções adotadas sem os devidos questionamentos, decorrentes de uma patologia que, infelizmente, atinge alguns profissionais: a teomania, ou seja, a onipotência, a “mania de ser Deus”. Essa patologia deve ser conscientizada por todos os profissionais e pela Sociedade como um todo.
O que acontece é que nossa sociedade não utiliza adequadamente os conhecimentos lógicos da engenharia geotécnica em suas implantações urbanas e muito menos as questões de percepção, intuição ou bom senso, de origem teológica.
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